A minha parte...

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Um imenso incêndio arrasa a floresta.

Enlouquecidos, os animais fogem cada qual para seu lado.

Só um colibri, sem descanso, vai e vem continuamente do rio até ao braseiro fumegante, com uma gota de água no bico, que deposita sobre o fogo.

Um tucano de bico enorme interpela-o:

"Enlouqueceste, colibri, bem vês que o que fazes não adianta nada".

"Sim, eu sei", responde o colibri, "mas estou a fazer a parte que me compete".

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domingo, 30 de maio de 2010

Meu filho é TDAH!

Venho por meio desta esclarecer, que

Sim, ando furiosa. Saber hoje que meu filho é TDAH ( transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ), e saber que, por isso :

"Um grande n.º de outras dificuldades a longo prazo tem sido associadas com relações negativas com seus pares na Infância, incluindo um maior risco de desenvolvimento de uma condição comórbida ( ex. : depressão, ansiedade ), abuso de substâncias, comportamento delinqüente ou criminoso, e instabilidade no trabalho. Resumindo, as crianças com TDAH que também apresentam desadaptação social, quando comparadas com outras crianças com TDAH que não são rejeitadas pelos seus pares, carregam um fardo psicológico maior, que as predispõe a dificuldades em várias áreas através da idade adulta ( e durante toda a vida )”.

A partir disso, começa a correria!! Psicóloga, neurologista, exames, dificuldade em lidar com os efeitos colaterais da medicação, aulas de reforço escolar, ufa!!

E ouvir, do colégio onde seu filho estuda que você "tem que dar um jeito nele", e "não queremos mães mal educadas neste colégio", etc. , me leva a seguinte pergunta: uma mãe pode ficar furiosa por se sentir abandonada e saber que seu filho, muito amado, inteligente, só que "meio atrapalhado", tem que ficar trocando de colégio para ver quem o aguenta ?

Por que todas as mães de crianças TDAH passam por isso?

Por que, quando eu ainda não contestava o colégio, nunca fui "convidada" a levar meu filho pra outra instituição, mesmo ele não se adaptando ao colégio ? E agora, após o diagnóstico de TDAH, no primeiro problema, fazem de tudo para que eu tire o meu filho do colégio, inclusive com ataques pessoais ?

Sobre o parágrafo acima, gostaria de entender: por que, quando eu ia ao colégio, todos os funcionários sabiam quem era meu filho, não pelo ruivo do seu cabelo, mas sim, por ser desastrado, etc, e ficavam comentando nas minhas costas? Por que viviam os professores reclamando e nenhuma boa alma me apareceu para dizer que seria boa a ajuda de um psicólogo ? Por que, das várias vezes que conversei com a coordenadora Margareth sobre levar o Felipe ao psicólogo ou se ela não achava que ele tinha algum problema, simplesmente me dizia: ora mãe, não é para tanto! Basta ser mais firme! _ E eu dizia: Mais??? Como???

Passei 12 anos tentando descobrir o problema e muitos profissionais ( de escolas ) diziam que “quando ele crescer vai amadurecer”...

Ok, eu já sei, que muitos profissionais estão despreparados, etc, mas... Não haverá aí também uma acomodação desses profissionais em fórmulas antigas, ultrapassadas, etc?

Mas aí apareceram as crianças com problemas... Os arcaicos, podem dizer: Maldita inclusão!!!! ( E eu digo: Bendita seja!!! ) Antigamente a população era menor, as pessoas tinham pouco acesso à informação e a vida era mais fácil ... assim dizem...

Já sei que, segundo todos os que conhecem bem esse transtorno, o problema sempre é da criança e dos pais. Todos estes profissionais lamentam o fato de nós, pais e os portadores de TDAH, passarmos por isso. Não estou me fazendo de vítima, ao contrário. O que eu gostaria de saber é: e quando alguém é vítima de um TDAH, o que dizer à vítima?

Sim, sou uma mãe furiosa. Além de mãe furiosa, agora sou também, a secretária que cuida da agenda do meu filho: aulas de judô, aulas particulares de inglês, aulas de reforço de matemática, química, física e português. Minha grande alegria deste ano foi conseguir uma professora de português que se comprometeu em não só dar aulas de reforço para a matéria deste ano, mas também, ajudá-lo a “sair do atraso” de vários anos nesta matéria.

Quem for MÃE que me atire a primeira pedra. Mas somente aquelas que forem mães. Às demais, fica somente a minha fúria.

Deus me deu o privilégio da maternidade. Tenho 3 filhos, somente um TDAH. Segundo o Dr. Jobair Ubiratan Aurélio da Silva, neurologista do meu filho, Deus escolhe bem as mães de filhos TDAH. Me sinto uma privilegiada em ter um filho assim. Depois dele, comecei a aprender sobre a hipocrisia, o descaso, o “tudo de ruim”, mas também, o melhor dos seres humanos.

Às que são mães, mas de filhos “que não dão nenhum problema”, digo-vos: tenho duas filhas que são deste tipo, e é como brincar de boneca... Uma alegria só!! Elogios....muitos!!! Professores as adoram, tem muitos amigos, aprendem tudo rapidinho...hummmmmmm, uma delícia!!

Mas... e quando o filho apresenta um problema? Claro, a culpa é da mãe!! Mimam demais, não dão disciplina, etc, etc... Um inferno!!

Mas... e quando não mimam e dão disciplina?? Claro, não estão fazendo seu trabalho direito!!

E quando a criança é TDAH ? .... hum...perguntinha difícil, já que hoje em dia já não se pode dizer que isso é uma invenção dos pais pra não educarem seus filhos... (CID 10: F90.0 ).

TDAH , apesar de nos cobrar doses enormes de paciência, não é um “bicho de 7 cabeças”. Mas, se pensarmos que parecemos “bichos de 7 cabeças” para essas crianças, a coisa muda.

Segundo todos os especialistas que lidam com portadores deste transtorno, SIM, eu tenho todo o direito de estar furiosa!!! EXIJO que os profissionais da educação se enterem do que é TDAH, para saber como lidar com ele, para que assim, deixemos de ser “bichos de 7 cabeças”.

Agora que todos já sabem quem eu sou, pelo meu “comportamento” na escola, digo que era essa mesma a minha intenção: SER COMENTADA.

Além de mãe furiosa, não sou conhecida por ser super protetora, muito pelo contrário: sou uma mãe, tia, prima, irmã, filha, sobrinha, neta, bisneta, cunhada e vizinha que não gosta de bate- boca. Isso mesmo! Me chamam de obstinada (nem sempre sendo como um elogio), aquela que resolve as situações quando os demais envolvidos também anseiam por ela.

A família do meu marido é bastante numerosa (são 10 irmãos). Não havia muito diálogo entre eles, mas sim, muitas reclamações. Hoje, o Natal, e muitas datas comemorativas, acontecem na minha casa. Detalhe: é uma família japonesa. Por incrível que pareça, não há intrigas, disputas, mas há sim, muito carinho entre os cunhados/cunhadas e aproveitamos nosso tempo juntos, para brindar à vida, pelo prazer que nos dá em nos reunirmos, fazermos parte da vida uns dos outros, fazendo aquilo que Jesus nos ensinou: Amarmos uns aos outros. Sabe quem tem o mérito por isso? TODOS nós. TRABALHO DE EQUIPE. SENSO DO DEVER . A consciência de sermos o exemplo maior dos nossos filhos.

Toda linda história de amor nem sempre tem um lindo começo. Depende dos corações que batem dentro de nós. Eu tento sempre sentir “onde aperta o sapato “ no outro. Quando não consigo, através de uma simples tentativa, tento entrar dentro do ser que me pede ajuda, para entendê-lo.

Acredito piamente que essa é a única estrada a seguir. Entender o outro não quer dizer fazer o que o outro quer, mas sim, buscar um consenso.

Espero que entendam “onde o sapato me aperta” com esse “desabafo”. Já que me está proibido pela diretora falar com quem quer que seja deste colégio (ela disse que é dona desta instituição e eu só posso resolver (...) com ela ... ). Sem comentários.

NÃO estou furiosa por meu filho ter ficado de recuperação _ que fique bem claro. Eu mesma já discuti com uma professora de geografia, 2 anos antes, por NÂO o ter deixado de recuperação. A minha preocupação é com o ser humano que estou preparando “pro mundo”. Que o repitam, o coloquem de recuperação, pouco me importa. Me preocupa sim, e muito, em torná-lo em um “Homem de Bem” (pareço minha avó, desse jeito..rs). Com a ajuda de Deus, conseguirei, sabendo que : “Uma andorinha só não faz verão”.

E quem for MÃE, que me atire a primeira pedra!

Luciani Cordeiro

Mãe de Felipe Q.

Colégio Mary Ward _ Tatuapé

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